Este é o amor, todo o amor:
Chagas de deus.
Meu coração ensanguentado vaza teus perfumes
e faz manhãs nascerem em meu seio para aquecer-te o sol em meus olhos
Faz um luzeiro nas noites, faz
Cócegas nas estrelas
E eriça a cauda de cometas
Como poderão as fontes secarem se o meu amor alimenta-as com as lágrimas
Tua distância e
Inconstância criam as vagas
Os temporais,
Meu naufrágio
Mas irei ancorar em praias brancas de corpos e mel que brota de beijos
e a fina camada de pelos no rosto de um jovem homem que me quer com os desejos de todo seu jovem torso recém exposto aos temporais da masculinidade, ele e todos os sorrisos nos verdes olhos dos outros homens maduros como uvas que bebem em meu seio as forças com que me povoam
e as mulheres jovens de pernas graciosas e sorrisos de água
e as mulheres torneadas por anos em suas ancas que pesam sobre meu corpo sua ansiosa feminilidade
Este é o amor, meu amor
corpo de puta
minha pele untada em óleos dos amantes que arriscam seus desejos em minhas coxas
escorre para tuas mãos
e faz as águas rugirem em meu sexo para dar à tua sede, quando os vinhos das tantas bocas amortecerem os sonhos
Guardarei teu sono com sonhos de correntes e garras
Com a alta lua e os silêncios
Como as lagoas profundas e as as torrentes caudalosas prometem o mar
às ondas e gaivotas
Mas só há o mar para os afogados entre os homens, eu os afogarei com meu pranto, ou com meu sexo voraz
e com as incontáveis palavras que não se diz
Este é o amor, o meu amor e o teu, e o amor dos outros
E os amores todos que causei
Não haverá sombra na tarde que se inicia com sóis duplos, com lesmas sem rastros, com peixes com sede
Não haverá rumores no silêncio das pedras.
Não haverá beijos neste amor desesperado
Somente o presente meu para o teu
Somente as memórias da água, que não escrevem-se em palavras, que não desenham imagens, que são só
Esquecimento.

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