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sábado, 17 de novembro de 2012

Com Herbero Helder, “O AMOR EM VISITA” ou O desejo do amor em visita a meu corpo:




“Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.”

Encantarei talvez o tempo para que nos esqueça e não passe em nós, mas por nós. Deixando em seu rastro uma infinitude que supera as eternidades embaladas em futuros, e será sempre o presente, o meu presente para ti!



Cantar? Longamente cantar,
Uma mulher com quem beber e morrer.”

Escolherei as ervas e os grãos com que farei tua comida, por que comeremos a beira de lagoas e à margem de silêncios encarnados espreitando os desejos após o pequeno almoço. Nos deitaremos à sombra dos dias sem horas, e repousaremos em concha até que o desejo desperte em ti a fome de mim,
E cultuarei tua sede em minhas águas, e em doses fortes
E caminharei contigo para o desaparecimento que é existir sempre em nós mesmas!


“Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido por flores com água.”

E meu corpo queimará os desejos, e os corpos dos que vierem serão despojos sobre o que faremos nosso gozo; e os beijos serão paisagens de que arrancaremos as cores para nosso sangue; e os perfumes, e as unhas, e as bocas alimentarão cada dente e cada rasgo que farei em tua branca vestimenta da carne.


“E enquanto manar de minha carne uma videira de sangue,
cantarei seu sorriso ardendo,
suas mamas de pura substância,
a curva quente dos cabelos.
Beberei sua boca,”

Abrirei sua selada câmara, seu desejo escorrerei em meus dedos e acolherei os espasmos de seu gozo em minha boca e minhas mãos...E meu peso será em ti um instrumento de vôo.


“Nem sempre me incendeiam o acordar das ervas e a estrela
despenhada de sua órbita viva.

- Porém, tu sempre me incendeias.”


Meu corpo tem fogos que não se apagam em quaisquer frescores e lábios; Meus olhos têm visões que em teu corpo se realizam
Minhas mãos ocupam muitos corpos mas não as preenchem, só tu sacias a fome e a sede que em mim multiplicadas vivem

“...não te esquecem meus corações de sal e de brandura.”

Tudo em mim ecoa o desejo de ti, e o encontro, e enhum outro encontro faz estas sensações de plenitude com que me vens.


“Entontece meu hálito com a sombra,
tua boca penetra a minha voz como a espada
se perde no arco.
E quando gela a mãe em sua distância amarga, a lua
estiola, a paisagem regressa ao ventre, o tempo
se desfibra - invento para ti a música, a loucura
e o mar.”

Inventarei um lugar que queiras e para onde fujas...
Teus medos apagados, destituídos de esperas, tuas redes de segurança inutilizadas...
E nós seremos o paraíso que ascende às terras altas e aos montes e talvez às praias
E seremos únicas e deusas, sem tempo e seu  distâncias, sem despojos, sem vestes, despidas da necessidade dos mundos


“Vou para ti com a beleza oculta,
o corpo iluminado pelas luzes longas.
Digo: eu sou a beleza, seu rosto e seu durar. Teus olhos
transfiguram-se, tuas mãos descobrem
a sombra da minha face. Agarro tua cabeça
áspera e luminosa, e digo: ouves, meu amor?, eu sou
aquilo que se espera para as coisas, para o tempo -
eu sou a beleza.
Inteira, tua vida o deseja. Para mim se erguem
teus olhos de longe. Tu própria me duras em minha velada beleza.”

Entregarei para ti esta poção que faz o amor arder a frio: Serei deusa e criarei teu corpo.

“As coisas nascem de ti
como as luas nascem dos campos fecundos,
os instantes começam da tua oferenda
como as guitarras tiram seu início da música nocturna.”

Alinharei os planetas no teu rumo
E aportarei meu reino sob tua bandeira
Antes da viração, eu prometo, aportarei no teu gozo.

“- No entanto és tu que te moverás na matéria
da minha boca, e serás uma árvore
dormindo e acordando onde existe o meu sangue. “

O amor entre nós é este: núcleo ígneo de rocha fria; pedra na torrente; breu no meio do sol;
Teu corpo calculadamente penso
Meu corpo absolutamente em queda
E a alma ardente
Braseiro de fogo alto
e as águas de teu gesto
sobre minhas terras emersas...

“As águas que um dia nasceram onde marcaste o peso
jovem da carne aspiram longamente
a nossa vida. As sombras que rodeiam
o êxtase, os bichos que levam ao fim do instinto
seu bárbaro fulgor, o rosto divino
impresso no lodo, a casa morta, a montanha
inspirada, o mar, os centauros do crepúsculo
- aspiram longamente a nossa vida.

Por isso é que estamos morrendo na boca
um do outro. Por isso é que
nos desfazemos no arco do verão, no pensamento
da brisa, no sorriso, no peixe,
no cubo, no linho, no mosto aberto
- no amor mais terrível do que a vida.”

Agora,amor, abre a boca, morde os dentes em meus lábios, passa
Um doce sabor na saliva
desliza a mão pelo corpo
e pesa
sobre o meu
Poderia
ser um acaso, uma história

Quando duas luzes em teus olhos abriram janelas em meu peito
E crivou tua voz no meu amor,
poderia ser história,
Não fora o gozo
quase eterno.

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