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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Duas


Duas

As horas são coisas, como pedra e sal,
Como cadeiras de balanço nas varandas

As horas são como bichos, e plantas verdes, e são
Imóveis como os gatos dormem.

As duas horas são pedras desfazendo-se em solo fértil
Pra crescer uma saudade ruidosa de ti
Quando eu vou.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Eu sonho


Anoiteço entre teus braços de lírios
muito alvos
que a lua na tua pele vem se olhar como em espelhos
E teus cabelos são negras redes para meu sonho
repousar de tais cansaços
que a dor me deu
de tua espera

Ah pudera a aurora não chegar tão fria!

Naufrágio


Nesta noite, entre mortos e
feridos sobramos eu
e o amor

Esgazeados olhamos a falta
de teu olho, a marca abstrata
de tuas mãos em meu colo
e o silêncio que não és tu.

Mas que seremos nós
Senão despojos
do teu naufrágio

Só navegamos teu corpo
E se pões em calmaria
ou refugias no porto espesso
dos nadas

A surda violência aflorada,
besta que o meu dragão de amor
teme tanto
a ríspida cria do teu desespero
e imobilidade

arrastam-nos para os recifes
do esquecimento

domingo, 16 de janeiro de 2011

Pensando em um poema de HH

Eu amo os amigos que estão
num poema de helder
eles estão na porta da minha casa com seus vinhos, seus jogos, seus cigars

Eu amo meus amigos
nas suas cartas, e nas msn rápidas
mesmo que não no poema

Eu amo todos os meus amigos
aqueles que minha mão comporta e cabe

Os amigos que têm nomes e aniversários
que têm pais e mães, que têm filhos
que têm prazeres e gostos e detestam certas coisas
que sei

Eu amo os meus amigos
no coração, na distância e tempos
preciosos em que o encontro faz meu dia.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Palavras

Há um certo pudor nas palavras escritas,
E uma doçura que veste a violência desta verve acre
Parcimoniosa a dor se enfeita
O amor faz-se fácil e macio
E a permanência é escrita.
                     
                       (Mas é um pergaminho este baú onde as disponho, as palavras)

É um pudor que corrói e
corrompe
A indefectível queda e o
esquecimento.


Este poema foi escrito ontem, no meio do silêncio, da solidão. Não parece tanto com meu amor pelas palavras como este outro, que foi escrito ao lado de alguém definitiva, em uma cadeira de macarrão no jardim de fundos da casa:


Sobre palavras constrõem-se
Pontes imensas
Com tuas mãos

E este riso absurdo dentro
de tua boca teu riso,
- Quase mu(n)do.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Hoje


I.             Tive 40 anos e já do horizonte a perspectiva é de abismos

II.           Tenho menos sonhos do que os anos,
e mais ternura a quem não se encontra mais
e talvez mais gatos do que a vida estendida nos lençóis frios
& outros poemas de amargo amor e outros bandidos
feitos de enganos com que enfeitei a dor antechegada

III.         E um coração destroçado

IV.        As sobras e as sombras com que povôo a noite velha.